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domingo, 23 de janeiro de 2011

Capitação ou cachoeira do CERA

Dias atrás conversava com o Coalhada pelo MSN e ele me intimou a escrever uma história sobre a capitação de água do Cera. Pensei por algumas horas sobre várias histórias engraçadas que vivemos lá, no entanto eu me prendia muito mais em como descrever a beleza daquele lugar.
Para chegar até lá não era uma tarefa muito fácil, tínhamos que percorrer alguns quilômetros andando pelo mato, em algumas trilhas que muitas vezes nem conseguíamos encontrar por causa do mato fechado. Mais quando chegamos lá nos deparávamos com um poção maravilhoso, envolto por serras de pedras de um vermelho único e vegetação rasteira e altas árvores por cima. Os meninos tentavam incansavelmente encontrar o fundo do poção, mas mesmo os melhores nadadores da turma nunca conseguiram trazer uma única folha seca lá do fundo.
Os meninos misturavam coragem e loucura ao pularem de um tubo de ferro que cruzava por cima do poção de uma pedra a outra. E alguns pulavam do alto de uma árvore que ficava na serra, a esquerda de quem chegava ao poção.
Atrás do poção ficava um reguinho de água que descia por entre as serras e que nos atravessávamos por entre pedras escorregadias até chegarmos ao mais belo lugar que meus olhos já viram. Era a cachoeira do Cera. Não era muito alta, mais uma água limpida e trasparente escorria com uma força impressionante pelas pedras vermelhas da serra. Nós escalávamos pelas bordas da cachoeira e chegamos ao cimo da serra, uma visão única: um filete de água cobria a rocha toda.
Uma vez fugimos da escola e fomos para o poção. Eu, Magali, Sinara, Luciane, Weslayne e mais outros meninos que nem lembro mais quem tinha ido, mais era por volta de umas vinte pessoas. Fomos pelas margens do rio por que não podíamos ser vistas pelos funcionários da escola. Foi uma aventura total. Levamos horas para chegar até lá em cima da serra. Mas valeu cada passo andado. O calor estava insuportável, porém a água muito gelada e nos refrescou totalmente.
Quando voltamos para a escola já passavam das dezessete horas e em nossa mente teríamos que voltar para a cidade de carona. Mas para nossa surpresa o ônibus nos aguardava cheio de funcionários e de quebra a coordenadora Marta que nos deu o maior sermão e nos deixou de castigo por alguns dias e quase nos deu uma suspensão.
Para essa nossa façanha os meninos inventaram até uma parodia de uma musica que fazia sucesso na época: "Vou nadar e morrer na sala da Marta" embalado pelo ritmo de um pagodinho romântico.
Mas que valeu a pena, isso valeu, a água estava maravilhosa.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Contnuação 11



O ÚLTIMO ADEUS



É chegada à hora da derradeira partida.

Fica no coração uma lembrança e na alma uma cicatriz que nunca sumirá.

A dor de não ter dado o devido valor àquele momento único e inigualável de minha juventude.

Parti. E aos melhores amigos de toda uma vida, disse um simples adeus. Um adeus frio e insignificante. Perdi a oportunidade de dizer a cada amigo a verdadeira importância que tiveram em minha vida. De olhar bem nos olhos dos meus amigos e dizer que os amava e que para sempre teria cada um deles gravado na minha memória e em meu coração. E que sabia que dificilmente voltaria a revê-los, mais que tinha valido muito cada segundo que passamos juntos.

Mas passei este momento tão especial e único da minha vida como se fosse um acontecimento banal. Que inconseqüente eu fui!

Lembro-me que os meninos anotavam endereços e telefones um do outro e eu não anotei nem um único contato por que tinha medo de meu namorado se enciumar. Que pena! Partimos e nos perdemos pela vida. Cada um seguiu um caminho e só restaram as lembranças, a dor e a saudade.

E hoje eu sei que eu devia ter vivido com muito mais intensidade aqueles momentos únicos na minha vida adolescente.

Por isso quero aproveitar essa oportunidade para dizer aos meus amigos de jornada o que não disse quando deveria ser dito, dizer que aqueles quatro anos que vivi ao lado deles foram à melhor fase de minha juventude e quero que todos saibam do meu arrependimento e da intensidade de meu arrependimento. E que trago no peito uma imensa dor e saudade enorme de cada amigo. E que por causa da inexperiência, não vivi da forma como deveria ter vivido aqueles momentos de prazer e realização ao lado de pessoas que durante tanto tempo fizeram parte importantíssima de minha vida. E sei que eu poderia ter contornado melhor a situação, mas tudo aconteceu da forma como aconteceu, porém me arrependo muito com a forma como lidei com as coisas.

Gostaria de ter abraçado a cada um deles. Ter dado um abraço forte, olhado bem nos olhos e dito:

− Adeus companheiros de uma vida, de uma história. Sigam felizes pela vida, que tenho certeza irá cuidar bem de cada um. Vou levá-los no coração pra sempre. Amigos, companheiros e quase irmãos, essa pessoa que hoje sou tem um pouquinho de cada um de vocês.

Aprendi com os vários agriculinos, de culturas e personalidades mil, a ter força e garra para lutar. Saibam que vocês passaram pela minha vida para me ensinarem tudo que sei e principalmente, ensinaram-me que viver é sentir cada segundo dessa vida boa, serena e às vezes agreste, mais que devemos viver cada momento intensamente.



A PARTIDA



E naquele dia eu parti sem olhar para trás. Com o coração dilacerado, rasgado, sangrando de dor eu segui sem nem ao menos olhar para trás.

Passamos na casa em que eu morava para recolhermos minhas coisas. Meu pai colocou tudo no carro.

O Cleber acompanhou tudo calado. Um silêncio doloroso. As palavras nos faltavam.

Todos entraram para o carro. E nós à porta do automóvel, nos olhávamos na esperança que o silêncio falasse por nós.

Cleber olhou fixamente em meus olhos, com amor derramando pelos poros e uma dor terrível que dilacerava a alma. Parou por um instante, abaixou os olhos, suspirou fundo e me disse:

− Vou te ligar todos os dias e não deixarei de pensar em você um só minuto nesta minha vida. E assim que der vou lhe visitar. Vou te amar para sempre e um dia a mais.

E sorrimos por ele ter recitado um verso de uma canção que tínhamos ouvido juntos uns dias antes.

Um grande e longo silêncio fez-se entre nós. Lágrimas rolaram de nossas faces e selamos tudo com um beijo. Um beijo apaixonado, terno, afetuoso, quase interminável...

Olhamos-nos por alguns instantes e deixamos o silêncio se encarregar do resto.

Entrei no carro e papai saiu no mesmo instante.

Ficamos nos olhando até nos tornarmos formiguinhas.

Minúscula e insignificante é a distancia para o amor.



O FIM



Depois, por vários dias nos falamos pelo telefone. E nossas conversas eram intermináveis.

Então um dia ele não ligou e nem eu voltei a telefonar-lhe.

E mesmo que vocês pensem que eu deveria ter ligado lhes respondo: não acredito que isso salvaria nossa relação, pois a vida já havia se incumbido de terminar nossa história de amor, ali em Aquidauana, à Rua dos ferroviários, em frente ao cemitério quando nossos corpos se transformaram em dois pontos minúsculos separados pela distância.

E atualmente, depois de anos passados, Cléber e eu ainda mantemos contato, ficou entre nós uma grande amizade.
E meus velhos amigos de tantas boas histórias seguiram na vida, porém, com a maravilhosa tecnologia posso, com alguns, mantenho uma amizade virtual. Confesso que com alguns mantenho uma boa amizade virtual e outros se transformaram em emails esquecidos no hotmail. No entanto, o mais importante de toda essa história foram os momentos vividos, e que nos transformou em que hoje somos: Profissionais respeitáveis, pais e mães de família que sempre levarão no coração e na memória as lembranças das histórias e das pessoas que durante quatro anos fizeram parte de um mundo só.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Continuação 10

A


A FORMATURA



Esta tem sido a parte mais difícil para escrever, já parei por longos meses. E a cada vez que tento recomeçar me dá um nó... Tenho tanta coisa pra falar deste momento da minha vida que acabam me faltando palavras.

São tantos sentimentos que se misturam dentro de mim: angustia, saudade... Um turbilhão de sentimentos. Um não sei o quê, que me aperta o peito, que me sufoca e meu cérebro parece emperrar... E só consigo lembrar as cenas mas me faltam às palavras...

Estou tornando isso confuso. Mais não é essa a sensação que quero transmitir aos leitores, gostariam que tentassem entender o quanto é importante esse momento na vida de uma pessoa e são tantos sentimentos: Tristeza, alegria, amor, amizade, medo, vários sentimentos opostos mais que surgem todos ao mesmo tempo.







O GRANDE DIA



Meus pais chegaram bem cedo em Aquidauana. E finalmente tudo estava pronto para o tão esperado momento. Passei muitas horas no salão de beleza. E o resultado final ficou muito bom, sem falsa modéstia, eu estava lindíssima, num longo preto, e os meninos também ficaram um arraso todos de paletó preto e camisa branca.

Tudo foi perfeito: a colação de grau, o culto ecumênico e o baile.

Bem, quase perfeito. No começo do baile teve um contratempo: uma briga, uma discussão que assustou a todos. Foi um corre-corre, um empurra- empurra... Achei que seria o fim. Mais tudo logo se resolveu.

Porém, meu nervosismo era maior por que meu amor não tinha ido a colação de grau, não ligou pra avisar nada. E eu sucumbia-me de pavor de ser abandonada no dia da formatura.

Andava de um lado para outro, apreensiva, nervosa, que nem fazia conta com os elogios que recebia.

Era quase 1: 00 hora da madruga quando ele chegou e estava um pouco estranho. Sério. Senti medo. Mesmo assim, não pude deixar de notar como meu namorado estava lindo, usando uma roupa social, camisa cinza escuro e calça de alfaiataria preta.

Preciso ressaltar que quando ele chegou, eu já havia tomado todas e mais umas e já estava quase dobrando o cabo da boa esperança... E daí para frente a tendência era só piorar. E era cerveja que vinha de todos os lados. Geladíssima, não tinha como recusar, ainda mais num calorão de Dezembro.

Os amigos já haviam começado a chorar e a lamentar a separação e usavam cerveja pra afogar as magoas. E o povo continuava a beber. E a chorar. E a relembrar do dia que aquele melhor amigo tirou aquele outro de uma enrascada. E aquele que arrumou aquela namorada mais gata da cidade. E cerveja. E choro. E lembravam-se do dia que a gente colou na prova e o professor quase pegou. E da vez que o casalzinho escapou do “Veio” quando se agarravam atrás da sala na hora do almoço. E choro. E bebida. E lembranças. E abraços. E lágrimas.

Foi tanta cerveja e tanto choro que em alguns momentos eu acabei esquecendo o namorado, que ficou enfurecido e sem entender todo aquele afeto e carinho entre amigos que durante quatro anos viveram tantas histórias juntos. Ele não entendia que ali era o começo de uma nova história e o fim de uma historia inteira. Para nós era a coisa mais importante do mundo.

E eu sei que o meu namorado não era o único a não entender aquele momento, ali tinham muitas namoradas que da mesma forma que o Cleber não entendiam aquelas lágrimas, abraços, palavras sem sentidos, cerveja, tristeza e alegria. Tudo misturado.

Não tenho vergonha de assumir que escrevo essas linhas chorando, aos soluços mesmo. Ter que relembrar aqueles momentos ainda me causa muita emoção e acredito que cada um que estudou no Cera ao ler esse trecho também estará em lagrimas por que experimentou da emoção a qual me refiro.

E o meu namorado sem entender essa emoção, enfurecido e enciumado, aproximou-se gritando por causa do som alto:

─ Jane, vamos embora?

─ Não, meu amor, é cedo ainda!

─ Eu já estou indo. Fica ai com seus amigos. E não precisa vir atrás de mim que você já escolheu com quem quer ficar. Ficou a noite inteira se abraçando com um e com outro, tem mais é que ficar com eles.

─ São meus amigos! É a minha formatura! Não sei quando os verei novamente. Entenda-me. Só isso que estou lhe pedindo, é assim que você trata meus sentimentos?

E sem me responder, virou as costas e saiu.

Fiquei louca, desesperada, fui atrás dele. Mas sandália de saldo não é a melhor coisa pra se correr atrás do namorado quando eles terminam com a gente.

Eu não consegui alcançá-lo e em meio à multidão ele desapareceu...

E eu chorei ainda mais. E bebi ainda mais.

Depois de um tempo, não sei como ainda conseguia enxergar, mais eu o vi no meio das pessoas e fui até ele:

─ Você não tinha ido embora? Arrependeu-se e voltou porque quer ficar comigo, né?

─ Não! Voltei porque tenho convite...

Saiu de perto de mim e começou a dançar num grupinho.

Eu fiquei meio por perto, bebendo. E é até esse ponto da história que eu me lembro e ele também.

Não sabemos como e nem sob quais circunstancias chegamos a sua casa. Mas o fato é que acordamos um ao lado do outro no quarto dele, acordei com as pernas dormentes, pois adormeci com as pernas penduradas pra fora da cama e ele dormindo no chão ao lado da cama. Acordamos com uma dor de cabeça terrível. E rimos muito de tudo. Beijamos-nos como sinal de que tudo tinha sido apenas efeito da bebida.

E ainda tinha a continuação da formatura: churrasco no Clube do Laço.

Tomamos um banho e fomos correndo pra minha casa, onde estava minha família nos esperando. Meu pai com a mesma cara de poucos amigos nos olhou desaprovadamente.

Hoje eu o entendo, com certeza não era fácil pra ele aceitar toda aquela situação, sua menininha até pouco tempo, tornou-se uma mulher.

Fomos todos para o almoço no Clube do Laço de Aquidauana, no caminho meu pai não pronunciou uma única palavra. Por certo estava digerindo toda aquela história.

Ao chegarmos meus amigos já estavam todos reunidos. A música era boa, cerveja estava bem gelada, muita carne rolando nos espetos. Estava uma festa belíssima. Muitos convidados, gente bonita e animada. Porém a felicidade tinha certo sabor de nostalgia, de adeus.

E essa nostalgia que torna essa a parte muito difícil de ser contado, ter que reproduzir em minha mente esses momentos me causa novamente um turbilhão de sentimentos que até então estavam adormecidos no meu peito.

Eu deixei muita coisa por causa do Cleber. E aquele foi um momento em que eu deveria ter vivido exclusivamente para os amigos, para a despedida, para o adeus.

Não era somente a tristeza da despedida que me angustiava, era a certeza de que a minha grande história de amor poderia acabar no momento em que o carro sumisse pela estrada. E isso aumentava muita minha dor, minha tristeza.

E decididamente não soube lidar com meus sentimentos divididos e deixei de lado meus amigos, meu momento. Momento único que eu deveria ter aproveitado até o ultimo instante. No entanto, só agora tenho a maturidade de perceber isso. E naquele momento eu escolhi o amor, e todos devem concordar comigo: é uma escolha muito difícil, não é?

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Continuação 9

OS


OS PREPARATIVOS



Os preparativos para a formatura iam de vento em popa. Tudo acertado: local do baile, do almoço, cerveja, colação de grau, tudo certo até os mínimos detalhes.

E quanto mais se aproximava a data mais dava um nó na garganta, um aperto no peito. Depois de quatro anos ter que deixar os amigos pra seguir numa vida que parecia não ser a minha, pois a minha vida era os amigos, a escola, as festas, enfim a rotina aquidauanense e em poucos dias eu estaria vivendo numa cidade que apesar de eu ter nascido e crescido, me sentia, naquele instante, total forasteira. E ter que voltar para Ponta Porã era uma coisa que me deixava muito triste.

Eu passava horas pensando que precisava terminar o namoro com o Cleber, pois nunca acreditei em namoros a distância. Para mim o amor precisa do toque, do cara-a-cara. Eu estava tão confusa, uma ebulição de sentimentos tomava conta de mim. Na realidade eu não queria terminar nada, mas longe um do outro não daria para continuar esse namoro que acabaria se tornando o amor inatingível dos poetas românticos.

Olhava para ele e me perdia em meus pensamentos. Queria passar o resto de minha vida ao seu lado, mais e o meu discurso de mulher independente e feminista: que iria trabalhar e ser uma técnica em agropecuária de sucesso, que iria viajar para os maiores centros agrícolas em busca de aperfeiçoamento e novas tecnologias agrárias.

Na verdade não era nada do que eu realmente queria, eu queria era lavar, passar e cozinhar para o Cleber e ter uns seis meninos para formar um time de vôlei. Mulher é tudo igual mesmo, é só se apaixonar de verdade para voltar no tempo e por a perder, toda a tal de evolução feminista e que se dane a queima de sutiã, eu quero é amar e viver a meu bel-prazer.

Eu precisava falar isso para o Cleber, que minha intenção era constituir um lar ao seu lado. E a coragem, caros leitores?

A verdade é que um dos dois precisava dar o primeiro passo e começar a falar, afinal era a nossa vida.

Um dia, voltávamos de um show quando percebemos que furou o pneu da moto, então a deixamos na floricultura da irmã dele e seguimos a pé até minha casa.

Lembro-me que fazia uma noite linda, a lua brilhava tanto na imensidão negra do céu.

−Olha amor, que linda a lua! − Disse cheia de admiração.

O Cleber parou de andar, olhou a lua por uns instantes, voltou seu olhar fundo nos meus olhos, abraçou-me e depois me beijou, num beijo tão profundo e calmo que me fez sentir medo. Medo de tudo ser simplesmente um sonho, uma falsa verdade e que a felicidade nunca existiu... E o beijo foi interrompido por suas palavras esbaforidas:

─ Amor... Vamos continuar namorando depois que você se formar? A gente se fala por telefone diariamente e de vez em quando você vem me ver e eu também vou lhe ver...

Interrompi-lhe com um beijo, e tão grande era a minha felicidade que quase não consegui falar:

─ Vamos! Vamos... Eu queria tanto ouvir isso de você meu amor...

Apressamo-nos por chegar a casa, ao nosso ninho de amor. E com beijos ardentes e apaixonados, embalados pelas românticas músicas de Alexandre Pires fizemos o melhor amor que duas pessoas apaixonadas podem fazer.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Continuação 9

TUDO


TUDO VOLTA AO NORMAL



Tudo voltou ao seu curso natural. E até a AndréiaCamapuã.

E nós a recepcionamos com muita festa, é claro, pois tudo naquela época era motivo de festa.

Começamos a comemoração em casa. Depois, Andréia sugeriu irmos para o Bar da Praça para continuar a bebedeira.

Então disse:

− Tudo bem então a gente encontra vocês lá, que a gente vai de moto.

− A Jane agora virou a Princesa Daiane e o príncipe Charles é o Cleber. Os dois não podem andar a pé. Vão acabar virando uns porcos de gordo. Vamos logo princesa Daiane dê a honra da sua companhia a plebeiada e vamos andando. − Ironizou a Andréia.

Para agradar a minha amiga seguimos todos andando, rindo e falando alto pelas ruas da cidade.

Ao chegarmos pedimos a cerveja mais gelada do bar. Que o Cleber pediu brincando com o garçom:

− Traga duas cervejas bem geladas. Aquelas que você escondeu para o prefeito.

E a noite seguiu animada, porém, cada vez que alguém lembrava que se aproximava a nossa formatura, era motivo para bebermos mais uma e nunca faltava alguém para começar a choradeira.

Afinal é muito triste ter que se separar dos amigos de anos de festa, alegria, companheirismo, cachaçada e dos momentos sérios também. A gente criou um vinculo como de irmãos e era muito triste saber que cada um ia voltar para sua cidade e seguir a vida dali em diante sem a presença constante dos amigos. E ai pra esquecer a gente bebia mais uma e chorávamos abraçados.

Eu, particularmente, ficava mais triste que os demais, pois além dos amigos teria que me separar do amor da minha vida que residia em Aquidauana.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

continuação 8

NO


NO OUTRO DIA...



No outro dia a ressaca foi terrível. A cabeça parecia que ia estourar e não tinha água que matasse a minha sede. Mas o pior era a tristeza que consumia minha alma. Eu só queria ouvir musicas de fossa e fumei todos os cigarros que meu pulmão pode suportar. Como se aquilo fosse sarar minha dor e trazê-lo de volta para os meus braços.

No começo eu não gostava nada dele, confesso, queria apenas exibi-lo as minhas amigas como se fosse um troféu, troféu para minha capacidade sedutora. Mas conforme fomos nos conhecendo o amor foi surgindo e crescendo rápido e alastradoramente, como erva daninha na lavoura. Por isso fiquei tão triste, não queria que fosse o fim do nosso namoro.

Passei o dia todo triste. O pessoal falava, ria, contava histórias, piadas, mas nada me alegrava nem despertava meu interesse.

E assim o dia arrastou-se até a noite chegar, triste e solitária como eu.

Depois de muita insistência da Dani, fomos até a praça, demos uma volta pelo Viana, depois pelo Bar da praça, conversamos um pouco com o pessoal e então resolvemos comer um lanche antes de voltarmos para casa. Sinceramente eu não estava uma companhia nada agradável naquela noite.

Sentamo-nos no Alziro Express para lanchar. Chamamos o garçom. De repente percebi um carro passando bem devagar, ascendi um cigarro, dei uma tragada longa e uma tosse me fez pensar que parar de fumar me faria bem.

O garçom nos trouxe o cardápio. Foi então que percebi o carro, que se aproximava novamente. Meu coração quase saiu pela boca quando reconheci o Cleber ao lado do Marcelo, um amigo dele que até então eu não conhecia, joguei o cigarro, descasquei uma bala, coloquei-a na boca enquanto eles procuravam um lugar para estacionar. Encontraram uma vaga alguns metros de onde estávamos. Desceram e vieram em nossa direção. Cumprimentaram-nos e foram sentando nas cadeiras ao nosso lado. Fiquei quieta, com cara de poucos amigos, acendi um cigarro e então o Cleber me perguntou:

─ Ainda não parou de fumar. Uma moça tão bonita não devia fumar. A mão fede cigarro, o cabelo fede cigarro, sem contar o mal para a saúde...

Na verdade eu sabia de tudo aquilo e também não gostava do cheiro em minhas mãos e em meu cabelo. Mesmo assim não manifestei a mínima reação. Dei mais uma tragada e joguei o cigarro fora, pois o garçom tinha chegado com o lanche.

Depois de comermos falei pra Dani que deveríamos ir para casa que já estava tarde e no outro dia tínhamos que acordar cedo para ir à escola.

─ Não se preocupem levamos vocês para casa. ─ Falou o Marcelo e pediu ao garçom uma cerveja. Eles beberam, conversaram um pouco e eu quieta no meu canto.

Depois de duas cervejas eles nos perguntaram se já poderíamos ir. Levantamos todos e andamos até o carro. Entrei primeiro, o Cleber entrou em seguida e a Dani foi ao banco da frente ao lado do Marcelo.

Antes de descermos o Cleber me disse que iria pegar sua moto na casa do amigo e voltava para conversarmos.

Em poucos minutos ele estava de volta e expliquei que estava magoada com a forma como ele falou comigo na noite anterior. Obvio que ele tinha sua razão e eu tinha a minha. E que ele deveria ter falado de uma forma mais agradável que não gostava que eu fumasse. Ele concordou que foi grosseiro e pediu educadamente pra eu não fumar quando estivesse com ele.

Depois desta conversa resolvi parar de fumar definitivamente e hoje sou uma saudável mulher cheirosa, porque o pior de todos os males do cigarro, em minha opinião, é o mau cheiro. Fumar não está com nada e faz um mal irreparável a saúde. Por isso por um movimento aos cheirosos e saudáveis: Parem de fumar!

domingo, 2 de janeiro de 2011

Continuação 7

CHURRASQUINHO NO VACA



Opa! Vocês devem estar pensando que tem um erro gramatical no título desse capítulo, mas não. Vaca é o apelido de um professor e amigo da turma.

Depois que comecei a namorar o Cleber eu me afastei um pouco da turma, por isso eles inventaram um churrasquinho, com a tentativa de trazer meu namorado para o nosso grupo de amigos e assim tudo ficaria como antes.

Mas a tentativa foi meio torpe.

Nesse churrasco conheci qualidades do Cleber que não sabia que existiam, por que ele era legal, divertido, engraçado e bem humorado. Mais também muito ciumento. Confundiu a minha amizade com os guris. Achando que eles me davam mole, como ele próprio confessou dias depois. Mas o fato era que por eu ser a única menina da sala eles me protegiam e paparicavam demasiadamente e isso causou certa estranheza ao Cleber que pensou ser insinuação ou interesse deles por mim. Mas era só carinho e amizade.

No entanto, o programa foi um fiasco, fiquei dividida entre o namorado e os amigos.

Costumeiramente,  meus amigos e eu bebíamos e fumávamos muito e isso também criou atrito entre mim e meu amado, que apesar de beber socialmente, como fazia questão de afirmar, espantou-se com a quantidade de bebida consumida pelos agriculinos. E além disso, ele odiava cigarros.

Eu já estava “quase” tonta quando fui fazer um cigarro de palha. Peguei o fumo de primeiríssima linha, a seda era “traia de patrão”, coloquei o fumo na seda, enrolei com uma destreza invejável, coloquei na boca e quando fui ascender meu enamorado me olhou, com uma cara de mau e disse para eu não fumar. Sorri abaixando os olhos, ascendi, dei uma tragada e uma baforada, ficou uma obra de arte e passei-o para o Coalhada que continuou a fumar.

Dei uma volta pelo quintal, chupei uma bala e fui tentar dar um beijo no meu amor que se levantou e falou educadamente que não beijava mulher que fumava e que também não as levava para casa. Despediu-se do pessoal, subiu na moto, deu partida e foi embora sem se quer olhar para trás.
Fiquei espantada com sua atitude, mais continuei a beber com meus amigos. Acabei indo embora a pé com a Dani e os guris. Chegamos em casa e nos sentamos na esquina em frente ao cemitério.

Pensei que aquele tivesse sido o fim do meu namoro e bebia ainda mais com a desculpa de que era para esquecer toda aquela situação.

Lembro-me vagamente que tocava uma música, nem sei quem canta, sei que falava em paredes azuis, solidão, abandono. Eu chorava, chorava muito por ter sido abandonada por causa de um cigarro de palha.

Bêbado é uma coisa! E chega a ser engraçado as coisas que um pinguço apronta.

Minha amargura e embriaguês era tanta que nem percebi que o Cleber estava parado com a moto atrás de mim. E já fazia tempo que ele estava ali ouvindo as histórias dos meninos. Eu só o percebi quando ele me chamou para dormir. Fui mal educada com ele:

─ Você disse que não beija bêbada, não carrega bêbada e agora quer fazer-se de bonzinho. Deixe-me que eu não preciso de você!

─ Mais você não consegue ir para casa sozinha...

─ Me deixa! A Dani me leva para casa.

─ Tudo bem então. Tchau! – E sumiu pela escuridão.

Há muito custo conseguiram me levar para dentro. Eu não queria entrar, tinha a esperança que ele fosse voltar num cavalo branco e salvar sua princesa do pudim de cana.