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domingo, 14 de novembro de 2010

Continuação 5: CAMPOS E MATOS

O RENCONTRO.




Fomos à inauguração de um barzinho na beira do rio e o nome do bar era “Beira Rio”, nada mais original, não acha? Todo mundo estava lá, música boa, bebida e muita gente bonita. A coisa estava fervendo.

A garotada flertando, cantando, animados pela música ensurdecedora e a bebida, pareciam cada um num mundo a parte, individual, mas que em uma fração de segundos todos faziam parte do mundo do outro.

Lá pelas tantas da madrugada, eu já havia bebido todas e mais umas. Estava andando, curtindo,Conversando, resumindo: festando.

Senti segurarem meu braço, inerte, virei-me calmamente ao ouvir alguém dirigir-se a mim:

─ E ai?

Era o Cleber, que seguiu falando:

─ E ai! Como é que você está? Quanto tempo, hein?

E despejou um milhão de palavras e em minutos contou-me o que tinha acontecido com ele naqueles três anos que ficamos sem nos ver.

Havia noivado com tal de Tuy, e ela o trazia na rédea curta, mais que já estavam separados...

Blá! Blá! Bla! E Blablablá...

E na tentativa de me livrar daquela conversa chata e inoportuna para uma festa tão boa como aquela, o convidei:

− Aparece lá em casa qualquer dia, pra gente conversar mais. Eu vou indo que o pessoal está me esperando ali. Tchau.

Sabe aqueles convites que você faz, mas que não são para serem aceitos. Que são por pura educação e que na realidade você nem quer saber do assunto que a pessoa está falando e sem encontrar outro meio pra despistar você faz um convite. Tipo: me liga, passa lá em casa depois, vamos marcar alguma coisa. Mais na realidade não se quer nenhuma das coisas. Então, era esse o caso.

sábado, 13 de novembro de 2010

Continuação 4: CAMPOS E MATOS

JUREMA




Jurema é uma personagem muito especial para qualquer um que passou pela escola. É uma mula muito inteligente e bela. Sabia voltar sozinha pro mangueiro onde morava e até já desfilou em praça publica ostentando um lindo girassol na orelha esquerda. E em muitas das histórias vividas pelos alunos que passaram por lá, a Jurema fez parte. Em muitas das vezes, ela, dizem as más línguas, era a cabeça de toda a tramóia.

Certo dia o Coalhada, o Tithiolina e o Néder juntamente com a Jurema armaram uma estratégia muito ardilosa pra caçar tatu.

Começaram pela manhã a armar o plano mirabolante deles, procuraram o buraco do tatu e com uns galhos secos deixaram tudo marcado pra mais tarde.

Voltaram pra escola e foram pra aula como de costume.

E tudo mais também seguiu como de costume: foram pro alojamento, tomaram banho, foram pro refeitório, jantaram, voltaram pro alojamento, fizeram sua higiene, assistiram um pouco de TV e foram dormir como em qualquer outro dia faziam.

Depois que todos dormiram e que o silencio imperava pela escola eles levantaram em surdina e começaram a pôr em pratica o plano. Foram até a bovinocultura, onde dormia inocentemente a pobre mula que logo seria cúmplice de toda a tramóia.

A trupe ajeitou a carroça no lombo da mula, um tambor com água e seguiram silenciosamente.

A intenção deles era encher de água o buraco até forçar o tatu a sair da toca em seguida o Néder o acertaria com um porrete que o tontearia e logo o Coalhada agarraria o animal enquanto o Tithiolina alumiava o local com uma lanterna.

Tudo saiu como o esperado.

O pobre tatu foi pego e virou churrasquinho. E para não deixar vestígio da ação noturna os meninos pegaram as brasas e colocaram em cima da carroça e iam jogar tudo num lago ali perto, porém a estratégia teve que ser mudada às pressas por que quase foram pegos em flagrante e tiveram que abandonar a carroça e a mula ali mesmo.

No dia seguinte, logo pela manhã, quando o ônibus chegou à escola nos deparamos com os demais alunos do internato rigorosamente em fila indiana, reta e silenciosa e na frente o inspetor e o diretor que falam sem parar, era sermão em cima de sermão.

O objetivo era descobrir quem havia colocado fogo na carroça da Jurema e deixado a pobre atrelada à carroça, correndo o perigo de ser incendiada.

E enquanto o malfeitor não aparecesse ninguém sairia daquele local e posição.

Porém, depois de incansáveis horas e tentativas sem sucesso a direção da escola desistiu pois os culpados não entregaram-se e tudo terminou em pizza, ou melhor em bandejão com arroz, salada e carne de porco.

A CASA




Mudei-me do hotel logo depois e passei a morar com a Dona Arminda, coordenadora da escola. Mais também não morei muito tempo com ela.

Fui morar na pensão da mãe da Claudia, telefonista no Cera. Na pensão da Tia Nelci, a mãe da Claudia, a comida e o tratamento que davam a todos os moradores era muito bom. Mais também não permaneci lá por muito tempo.

Fui morar com a Andréia, a Dani e mais alguns agregados de fim de semana, numa casa em frente ao cemitério. E foi onde morei até o dia da minha formatura.

A casa era uma meia água azul, com uma varanda na frente e ficava no fundo de outra casa.

Essa casa foi palco de muitas festas e cachaçadas.

A dona da casa da frente tinha um cachorro preto chamado Zeus que dava um certo ar de mistério a casa que já tinha um quê de sombrio por causa do cemitério.

Quando chegávamos à noite das festas e encontrávamos aquele bichão preto deitado na varanda dava até um arrepio, um incontrolável medo.

Mas Zeus era um cão dócil, apesar da sua cara feia.



ANDRÉIA



A Andréia é uma amiga muito especial. Durante o tempo que moramos juntas nós rimos, choramos, brincamos, falamos sério, bebemos, encobertamos as armações uma da outra, fomos cupido, amigas e parceiras.

Graças a ela posso dizer seguramente que tenho uma amiga.

Ela é uma morena de parar o trânsito, muito sensual , provocante, misteriosa e sua personalidade extremamente marcante. Lábios carnudos, rosto oval, alta, magra, alegre, conversadeira e muito prestativa. Seus olhos expressam sua força interior. Como diz o poeta: os olhos são o espelho da alma.

Seu jeito despertava nos homens o desejo e ao mesmo tempo insegurança. Eles a desejam carnalmente, mais ela sempre deixava seus namorados inseguros, por sua beleza e aparente volúpia. E ela gostava e divertia-se com isso.

Ela chegou à escola quando já estávamos no 2º ano do curso, transferida de outra escola agrícola para a nossa. Já no primeiro momento sentimos uma afinidade, uma inexplicável compatibilidade, como se fosse um laço de sangue, um estranho parentesco, era assim que descrevíamos nossa relação. De repente fomos irmãs em outra vida. Pois apesar de um monte de ações sua que eu não considerava certa, nunca ficamos contrarias ou brigadas por muito tempo.



O CAUSO



Um dia, eu e o Gustavo resolvemos tomar umas para esquecer... Esquecer sabe lá de que... Na verdade nem tinha o que esquecer, bebíamos era pelo prazer de ficar tonto.

Preparei uma caipirinha com pouco açúcar, que era a nossa preferida. E descia uma dose. Um mandava uma história. O truco rolando solto. Mais uma dose. Risada, piada, casos, mentira. E entre uma mentira e outra uma dose...

Acabou a pinga, nós dois já mais pra lá do que pra cá, fomos comprar a “saideira”. Era mais ou menos meia noite quando voltávamos e o Gustavo teve uma idéia:

─ Vamos beber esta no cemitério?

─ Vamos!

─ Então eu te ajudo a subir no muro e depois você me puxa.

Ele fez um apoio com as mãos pra eu subir e quando eu olhei pra aquela imensidão de túmulos parece que eu vi um clarão, deu uma moleza nas pernas que me fez cair como manga podre, perdi os chinelos no meio da grama e do jeito que levantei sai correndo e o Gustavo atrás perguntando o que eu tinha visto, e pra completar o Zeus assustou-se e avançou contra nós, quase não nos deixou entrar.

O que eu vi, ao certo eu não sei, mais daquele dia pra cá o Gustavo e eu passamos a respeitar muito mais o campo-santo.



GRUPO TEATRAL DO CERA



Tínhamos na escola um grupo teatral bem estruturado e sempre de muito talento artístico, roteiros bem escritos e direção excepcional. Que ao longo da história da escola fez parte por suas belíssimas apresentações.

Desde que soube do grupo tentei fazer parte do elenco, porém como ainda não tinha muitos amigos na escola não consegui ser escolhida. Havia um processo de seleção que na verdade era uma espécie de formação de cúpula, pois quem selecionava os integrantes do grupo eram os próprios candidatos a atores.

No dia da seleção tinha uma votação onde votava em si próprio e em mais um indicado, formando-se assim um grupo de afinidades que representaria a peça da escola durante um ano. Não consegui ser selecionada em dois anos consecutivos.

No meu terceiro ano de agriculina, depois de duas tentativas frustradas, consegui fazer parte da cúpula e representei ótimos papeis.

Sempre me esforcei muito pra desempenhar bem meu ofício de atriz. Mesmo sendo um grupo de teatro amador, pra mim e para os demais integrantes era o mais importante e célebre grupo.

A primeira peça que encenei no grupo foi a peça “Cine Glória” contando a história do cinema de Aquidauana que apresentava trechos de alguns filmes da época em que o cinema fez maior sucesso e era o único entretenimento da pequena cidade pantaneira. Juntamente com os trechos dos filmes tinham algumas histórias da participação do menino Rubens correia e seu estreito laço com o Cine Glória, que recebeu esse nome em homenagem a sua mãe.

Interpretei uma interessante versão de uma Jane estressada, esposa de um Tarzan vida boa que tinham um bebê muito engraçado. Na peça atuávamos sempre de mais um papel com figurinos muito originais e visando sempre o baixo custo.

O resultado da peça foi muito bom e na época recebemos ótimas criticas e até fui reconhecida na rua uma vez. Isso demonstra o ótimo trabalho desempenhado por todo o grupo.

Apresentamos a peça “Cine Gloria” para todos os alunos e funcionários da escola, para os universitários do CEUA e numa mostra teatral em Maracaju.





NOS FINS DE SEMANA



Durante a semana toda inevitavelmente ficávamos na escola o dia todo e em algumas noites. Mais nos fins de semana reuníamos os amigos da escola na minha casa ou em algum dos barzinhos da cidade pra conversar, beber, tocar, cantar moda de viola e paquerar.

Nossa vida social era muito intensa. Os meninos faziam muito sucesso com as meninas da cidade e isso causava certo furor nos garotos da cidade, que para vingarem-se, paqueravam as meninas do Cera. Mais no final todos saiam ganhando, de um lado ou de outro. O negocio era paquerar e isso a gente fazia direitinho.

Saíamos no começo da noite e voltávamos às vezes com o dia raiando.

Nosso passatempo preferido era ir a bailes. Dançar e paquerar muito.

Os meninos da escola não eram bonitos, na verdade tinham uns que eram bem feinhos, mais o simples fato de estarem no Cera fazia deles objeto de desejo da mulherada. Eles tinham um jeitão rústico, bruto, uma maneira de falar errado que fazia as garotas suspirarem.

E a contrapartida as meninas da escola tornavam-se as melhores candidatas a amiga de muitas das patricinhas da cidade, que queriam nos usar como ponte até seus pretendentes. Claro que a gente percebia esse jogo, mais isso nunca nos trouxe nenhum problema.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Continuação 4: CAMPOS E MATOS



A COBRA



Nós estávamos escalados na topografia e fomos medir uma área na beira de um córrego porque a escola queria aumentar uns tanques de peixes e aquele terreno era apropriado para se aproveitar água do córrego usando a força da gravidade para encher os tanques.

Passamos lá uma manhã inteira, medindo, fazendo cálculos, anotando dados.

Eu, pra ser sincera, não entendia nada daquela parafernália e muito menos dos cálculos, então só segurava a régua, carregava água e os materiais para os meninos fazerem o resto. Era a ajudante.

Depois de uma manhã inteira e muito cálculo, mais um monte de “sei lá o quê” que os meninos faziam com aquele aparelho, voltamos para a escola.

Era uma segunda-feira e esse dia da semana era o mais critico. Por que cada menino quer contar mais histórias que o outro e geralmente são sobre suas peripécias do domingo à noite. As meninas da cidade davam o maior mole para os meninos do Cera e isso os fazia acreditar verdadeiramente em seus poderes de sedução.

E eles vinham numa conversa acirrada sobre seus feitos. Com o saco cheio deles comecei a andar mais rápido, pois a fome apertava. Fui me distanciando deles. Trazia nas costas o aparelho de topografia e os meninos traziam as demais ferramentas. Eu estava com fome e por isso andava rápido e com a cabeça baixa, prestando atenção na grama verde, De repente parei mecanicamente, parecia travada, possuída pelo medo, sem conseguir nenhuma reação, minhas pernas pareciam não obedecer a ordens automáticas do meu cérebro.

O Hernane, astucioso percebeu quando parei de súbito e apresou-se em minha direção, trazia nas mãos uma estrovenga e de súbito decepou ao meio, a cobra que já vinha em minha direção. Perto dali o ninho das cobrinhas, e a cobra mãe foi decepada ao tentar defender seus filhotinhos. Por certo ela acreditava que eu fosse atacá-los e veio, corajosamente, defender os filhotinhos e se não fosse meu parceiro velho de guerra há essa hora eu não estaria aqui pra escrever essa história.

Os meninos praticamente arrastaram- me até a escola, pois fiquei em estado de choque. Sentaram-me na escada do corredor e trouxeram-me um copo com água. Fiquei um pouco ali sentada, sem reação, mas logo foi voltando a circular meu sangue pelas veias e consegui andar até o alojamento para tomar um bom banho e refazer do susto.





NA CIDADE



Na cidade, sempre através de algum amigo da escola, conhecíamos pessoas que não faziam parte do mundo agropecuário que eram visinhos, amigos, primos e às vezes até paquera de alguém da escola e acabávamos nos tornando num grande círculo de amigos.

Sinara namorava com um rapaz chamado Cleber. E foi através deste namoro que nos conhecemos.

Ela convidou-me para ir a uma festa junina no quartel com ela e seu namorado.

Estava uma noite muito, muito fria. E apesar do frio e da neblina, podia-se ver, vez ou outra, a lua, tão linda e redonda brilhando no céu Aquidauanense.

Fomos as duas encontrar com o Cleber no Bar da Praça.

− Olha lá ele!

Disse a Sinara.

Olhei, mais via várias pessoas, então perguntei:

─ Qual?

─ Aquele de camiseta vermelha, agora vindo em nossa direção.

Ao vê-lo pensei: “Meu Deus do céu!” Não acreditei em que viam meus olhos, só podia ser aparição ou sonho, por certo não existia na verdade, um homem tão bonito.

Era o Homem mais bonito que já vi durante a minha vida toda. E mesmo que eu passe horas descrevendo-o, não conseguiria descrever tamanha beleza.

Eu sei que vocês vão dizer que pequei. E confesso: cobicei o homem da próxima, e a próxima estava próxima. O que é ainda pior. Mais era algo além de minhas forças e deixar de cobiçá-lo era quase impossível.

Ele andava calmamente, passo a passo pela calçada, parecia um modelo numa passarela. Usava uma camiseta Pólo vermelha calça Jeans e tênis. Cabelos bem curtinhos, estilo militar, pois ele estava servindo ao exército na época. Olhos cor de mel, pele clara, lisa, barba feita e a boca carnuda. E que “boca” era aquela? Ele tinha um jeito de ficar molhando os lábios a toda momento que era coisa de louco... E o sorriso? Um sorriso calmo, quase silencioso que parecia iluminar toda a noite. O corpo musculoso, torneado, formas perfeitas. Tudo era proporcionalmente perfeito. Cada centímetro foi desenhado com sucesso pra provar que Deus é perfeito em suas obras.

Cleber e eu conversamos a noite toda, nossos assuntos combinavam e a Sinara e o Murilo ficavam apenas nos olhando, como se fossem meros coadjuvantes no espetáculo onde nós dois atuávamos como atores principais.

Divertimo-nos muito. Riamos de tudo. É impressionante como adolescente acha graça em tudo. Também a vida é boa, sem responsabilidades, sem contas para pagar, filhos, trabalho, casa e todo o resto que faz um adulto quase enlouquecer. Mais não a nós, com nossa adolescência toda pela frente pra poder vivermos felizes e rindo de tudo. No final da festa o Cleber e um amigo dele nos levaram pra casa.

Encontramo-nos mais algumas vezes depois, sempre em companhia da Sinara, mais o namoro não durou muito, nem me lembro por que eles romperam. Sei que logo ela arrumou outro e ele outra e seguiram seus rumos na vida.

E o Cleber e eu acabamos perdendo o contato. Chegamos a nos encontrar umas vezes por acaso, mas logo ele começou a namorar outra garota e seguiu um caminho diferente do que eu e as pessoas do meu círculo de amizade costumávamos seguir.



TESTE DE FIDELIDADE



Quando somos jovens fazemos umas coisas que mesmo depois de muito tempo e de muito juízo não conseguimos explicar a razão dos nossos feitos de adolescentes.
Entre a Rusi e eu tem uma história assim, que não tem explicação e nem motivo.
Ela começou a namorar com o Joelson, popular Boiola, logo que chegamos em Aquidauana. E depois de uns tempos começou a desconfiar da fidelidade do namorado. Sempre ela comentava suas desconfianças a mim e as meninas.
Um dia ela fez-me uma proposta meio louca, era pra eu dar em cima de seu namorado pra ver a reação dele. Achei aquilo um absurdo, fiquei chateada com ela. Mais por dias ela insistiu naquilo.
Por causa da insistência dela eu comecei a observar mais nele, nas coisas que ele fazia pela escola, no seu comportamento com os amigos, nos bailes e nos lugares onde estávamos.
E a Rusi sempre voltava a tocar no assunto de eu flertar com seu namorado.
Até que eu aceitei.
Passamos a planejar cada passo da suposta paquera. E tinha dia e hora marcada pra tudo começar a ser posto em prática. A Magali e o Luciano faziam parte do plano.
Fomos até o Viana,uma padaria que a noite se transformava em ponto de encontro da rapaziada. O Joelson e quase todos os meninos da escola estavam lá. Sentamo-nos numa mesa perto dele e comecei a olhar de vez em quando pra ele. Depois levantei e sentei-me à mesa onde ele estava. Conversei com todos e ria alegre, até cheguei a esquecer do plano. Tomei umas cervejas e esqueci por completo. A Magali, argilosa e astuta foi falar com o Joelson:
− Boiola, você não percebeu uma menina que está a fim de você?
− Não! Quem?
− Eu não vou te falar não, você tem compromisso, Né?
− É tenho compromisso.
E assim a gente chegou a pensar que ele fosse um namorado fiel. E que a Rusi tinha inventado uma dor de cabeça sem motivo.
Porém durante a semana eu continuei percebendo o jeito dele seguia-o com os olhos por toda a escola.
Passou um tempo e eu resolvi pintar meus cabelos de loiro. De negras madeixas passei a ostentar uma bela cabeleira loira que chamou a atenção pela mudança drástica na aparência. E pela primeira vez duvidei da fidelidade do namorado da minha amiga. E ele elogiou meus cabelos, me olhou nos olhos. Um olhar que me provocou até calafrios. E daquele dia em diante ele começou a me paquerar.
E a Rusi voltou com a conversa de por o plano em prática. Eu não quis, mais na realidade eu queria e queria muito. Recusei no começo. Ela insistiu. Eu aceitei.
E novamente no fim de semana ela teve dor de cabeça e não saiu.
A Magali, o Lú e eu saímos pra por em prática o argiloso plano. Novamente no Viana encontramos o pessoal, sentamos junto com o Joelson e mais uns meninos do segundo ano. Eu me sentei bem ao lado do Joelson.
Ele elogiou meu perfume e disse que eu estava bonita. Eu sorri. Acho que até fiquei corada.
Pensei: “não terei coragem de dar em cima dele. Ela é minha amiga. Moramos juntas. Isso não vai dar certo.”
De repente ele me perguntou;
− Está pensando em quê?
− Em nada!
E sorri. Ele me olhava bem no fundo dos olhos. Reparei que seus olhos eram verdes. Tão lindos e verdes. E daí, sabe quando todos os sons somem da sua cabeça, ficando só a pessoa falando, falando e você só consegue prestar atenção na boca se movendo em câmera lenta? Eu não conseguia me desprender daqueles lábios. Até que a Magali se levantou pra ir embora e eu disse que iria acompanhá-la.
O Luciano como era namorado dela levantou também e ai o Joelson levantou e disse que iria com a gente também.
E a gente escolheu a rua mais escura e menos movimentada pra ir. A Magali e o namorado foram um pouco mais a frente e o Joelson e eu logo atrás deles. Íamos conversando, rindo e quando passamos em baixo de um pé de sete copa eu esfreguei uma mão na outra por que estava um pouco frio e bem na hora caiu uma folha da árvore nas minhas mãos. Eu ri. E ele me disse:
− Sabia que quando cai uma folha de sete copa nas suas mãos você tem que dar um beijo pra ter sorte pra sempre?
− A tá bom!
E nisso ele me segurou e me beijou de surpresa. Eu parei olhei pra ele que sorria pra mim. Um turbilhão de coisas passou pela minha cabeça. E eu falei pra ele:
− Está errado isso. Você é namorado da Rusi. Ela mora comigo. Está errado, as coisas não podem ser assim.
− E como as coisas devem ser?
− Sei lá! Mais não assim.
_ Você tem razão. Não tem que ser assim. Tem que ser assim...
E me puxou forte em seus braços e me beijou tão bom que eu não quis parar aquele beijo afinal a Rusi causou tudo aquilo. E beijamos muito.
Voltamos pro Viana e logo depois eu fui pra casa, que era meia quadra do Viana.
Quando cheguei em casa, logo contei a história pra Rusi, não com todos os detalhes pra não lhe magoar ainda mais. Ela me olhou firme e me disse;
− Não pensei que ele fosse ficar com você. Sei lá. Eu não pensei que fosse capaz.
− Você quis que isso acontecesse.
− Mais eu achei que não ia acontecer.
− Você subestimou minha capacidade de sedução. Acha que por eu ser gordinha, ele não iria se interessar por mim. Enganou-se!
− Na realidade eu queria testar vocês dois.
− Que seja... Você se deu mal!
E fomos dormir chateadas, magoadas e feridas.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

continuação 2: CAMPOS E MATOS



ADAPTAÇÃO



Precisei aprender a lidar com a minha liberdade, pois estava sozinha numa cidade onde todos eram desconhecidos e isso me trazia muita insegurança e medo.

Mais, pouco a pouco fui fazendo amizade e me entrosando aos costumes.

Rose e eu fomos juntas de Ponta Porã para Aquidauana e sempre estávamos juntas pelos corredores da escola e na cidade, mas pouco a pouco foi fazendo amigos e ampliando nossos vínculos afetivos.

A primeira pessoa com quem fiz amizade na escola foi com a Sinara, ela tinha a mesma idade que eu, era alegre, comunicativa, extrovertida e uma personalidade bastante incomum, forte. Ela já não tinha tantos medos quanto eu, pois já era seu segundo ano ali.

Fazia o curso de meio ambiente e eu de técnico em agropecuária.

Ficamos amigas. Saíamos juntas, trocávamos confidências, falávamos bobagens e coisas sérias às vezes.

Formamos um grupinho de amigas e sempre estávamos juntas. Éramos feito irmãs. Seis amigas inseparáveis na escola e na cidade. O sexteto fantástico era como nos referíamos ao nosso grupo, e fazia parte dessa confraria, Sinara, a Rose, a Luciane, a Layne, a Magali e eu.

Eu morava com a Rose no hotel na Rua Augusto Mascarenhas e a Sinara e a Layne na casa de uma senhora que alugava um quarto para elas naquela mesma rua. A Luciane e a Magali moravam com a família da Lu em Anastácio.



A ESCOLA



Belíssima fazenda há 12 quilômetros de Aquidauana, a beira da Serra de Maracaju, ostentava 806 quilômetros de terras sempre muito bem cuidadas, campos, pastos e animais bem tratados. As instalações brancas contrastavam com os tijolos à vista, tornando-a uma construção imponente e bela.

Longos corredores de pisos vermelhos ligavam um pavilhão ao outro e à universidade de agronomia.

Passávamos na escola todo o dia, alternando entre aulas teóricas e práticas. Os meninos tinham ainda a opção do regime de internato ou semi-internato, mas para as meninas só semi-internato.

E por esse motivo eu e as meninas morávamos na cidade. Íamos para a escola no “verdão”, era assim que chamávamos o ônibus que nos levava e nos trazia da escola.

Lá aprendíamos muitas coisas interessantes: como a lida e o manejo de animais de pequeno e grande porte; a agricultura e suas várias diretrizes e ainda as matérias básicas do ensino médio.

Eu particularmente preferia os porcos, mas a preferência da maioria era pelos bovinos.

A gente cumpria escala de serviço, ou seja, a turma era divida em pequenos grupos selecionados através de ordem alfabética, para que todos os grupos passassem por todos os setores da escola. Lá tinha piscicultura, suinocultura, bovinocultura, avicultura, olericultura, viveiro de mudas, limpeza, cozinha, indústrias rurais e mecanização agrícola.



AULA PRÁTICA



Meu grupo para as aulas práticas durante os quatro anos do curso foram: eu, o Jaime, o Hernane e o atrasado ( que no batismo recebeu o nome de Jhonny).

Nosso grupo de prática era muito bem entrosado e animado. Nós rodávamos por todos os setores da escola sempre com muita disposição e bom humor.

Os meninos muitas vezes aliviavam o serviço pra mim por eu ser mulher, mais na maioria das vezes eu preferia trabalhar igual aos meninos. Eles tinham a mania de falar que escola técnica não era coisa de mulher e ai eu queria trabalhar como eles pra mostrar que isso não era verdade. Pois as mulheres ocupam cada vez um espaço maior no mercado de trabalho e provam que são capazes de realizarem todas as atividades com perfeição e muito profissionalismo.

domingo, 7 de novembro de 2010

Campos e Matos

 COMEÇO
Tentarei transcrever nessas linhas saudosas, os melhores anos de minha vida. Num lugar onde fiz muitos amigos. Amei, fui amada. Experimentei sensações, sentimentos e vivi intensamente cada dia na mais bela cidade que já conheci.
E são muitos sentimentos que hoje se misturam em minha mente. A saudade inunda meus olhos, sufoca meu peito e um sentimento que há anos estava adormecido ressurge em mim após recordar histórias e sentimentos que há muito estavam adormecidos. E como um vulcão que começa a entrar em erupção pra jorrar toda a lava imóvel. E a lava sonolenta transforma-se nesse livro, em que espero expressar todo sentimento e importância que há em cada momento vivido em quatro anos na escola ao lado dos meus amigos, companheiros de jornada.

AQUIDAUANA

Aquidauana situa-se há 120 km da capital do estado, Campo Grande e há cerca de 320 km de Ponta Porã. Conhecida como Portal do Pantanal, ostenta beleza e natureza envolta pelas águas do Rio Aquidauana que a separa da cidade vizinha, Anastácio.
As duas cidades são abraçadas por serras e morros de um verde intenso e cheio de animais, pássaros e árvores de um verde que só as árvores de Aquidauana têm.


TROTE

No primeiro dia de aula fomos reunidos pelos veteranos na quadra de esportes.  
A coordenadora da escola explicou aos recém chegados como funcionava o trote. Disse que era uma brincadeira de boas vindas entre veteranos e novatos. Cada novato receberia um apelido pelo qual passaria a ser chamado pelos outros colegas. Os meninos raspariam a cabeça como prêmio por fazer parte da família CERA.
Depois que a coordenadoria voltou pra sua sala, começou a festa.
Os avôs e avós como eram chamados os veteranos, escolhiam suas prezas e dava aos pobres recém-chegados um carinhoso pseudônimo, um apelidinho meigo e amável. Tinham alguns apelidos bem bonitinhos mesmo, mas em contrapartida, outros davam até vergonha de pronunciar.
E ninguém seria reconhecido senão pelo apelido. Tem colegas que até hoje não são conhecidos pelo verdadeiro nome, só pelo apelido.
O meu apelido qual era?... Melhor nem comentar! Brincadeirinha, eu até que recebi um apelido bem original, como sempre fui gordinha me apelidaram de Gelmax, o nome de um remédio pra azia e que trazia como garoto propaganda um dragão muito charmosinho. E acredito que pela nossa semelhança física presenteada com esse singelo apelido.
Mais tinham muitos apelidos interessantes: Tinha o Atrasado que era irmão do Adiantado. O Estrovenga, Coalhada, Tithiolina, Biscatinha, Saracura, Gercynha, Pucheiro, Paraguai, a Azeithona, o Formigão, o Gago, Debiloyde e muitos outros.
Os professores, o diretor, as coordenadoras e os funcionários, não podiam ficar de fora, também tinham apelido. O nome do diretor eu não lembro, mais o apelido dele era carinhosamente “Cabeça-de-onça”. Tinha o Vaca, o Miquimba, o Véio, a Papa-leguas e vários outros apelidos carinhosos.
E não pense que as meninas tinham regalias. Nós tínhamos que ficar abanando, assoprando ou servindo tereré para os veteranos enquanto cortavam um chumaço de cabelo ou colocava no pobre bagaço uma placa com o apelido e o nome do padrinho. Todos os novatos deveriam usar a placa, feita de papel A4, por trinta dias e deveriam cuidar dela como se fosse sua própria vida.
E não pense que as meninas tinham regalias. Nós tínhamos que ficar abanando, assoprando ou servindo tereré para os veteranos.
Os trotes eram variados, desde o corte de cabelo até umas repetições de frases idiotas que repetíamos aos veteranos.
Tinha menino que era forçado a se declarar pras árvores, outros que serviam de máquina de escrever para um veterano que fingia datilografar nas costas do novato que ia se inclinado até onde conseguia e fazia um som que era a deixa pra levar um tapa na orelha e voltar pra posição inicial.
Mais era muito divertido. Nada muito agressivo como os trotes que a gente vê pela televisão.
Naquelas brincadeiras sempre havia muito respeito e o cuidado para que a nada passasse dos limites entre o legal e a agressão.