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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Continuação 10

A


A FORMATURA



Esta tem sido a parte mais difícil para escrever, já parei por longos meses. E a cada vez que tento recomeçar me dá um nó... Tenho tanta coisa pra falar deste momento da minha vida que acabam me faltando palavras.

São tantos sentimentos que se misturam dentro de mim: angustia, saudade... Um turbilhão de sentimentos. Um não sei o quê, que me aperta o peito, que me sufoca e meu cérebro parece emperrar... E só consigo lembrar as cenas mas me faltam às palavras...

Estou tornando isso confuso. Mais não é essa a sensação que quero transmitir aos leitores, gostariam que tentassem entender o quanto é importante esse momento na vida de uma pessoa e são tantos sentimentos: Tristeza, alegria, amor, amizade, medo, vários sentimentos opostos mais que surgem todos ao mesmo tempo.







O GRANDE DIA



Meus pais chegaram bem cedo em Aquidauana. E finalmente tudo estava pronto para o tão esperado momento. Passei muitas horas no salão de beleza. E o resultado final ficou muito bom, sem falsa modéstia, eu estava lindíssima, num longo preto, e os meninos também ficaram um arraso todos de paletó preto e camisa branca.

Tudo foi perfeito: a colação de grau, o culto ecumênico e o baile.

Bem, quase perfeito. No começo do baile teve um contratempo: uma briga, uma discussão que assustou a todos. Foi um corre-corre, um empurra- empurra... Achei que seria o fim. Mais tudo logo se resolveu.

Porém, meu nervosismo era maior por que meu amor não tinha ido a colação de grau, não ligou pra avisar nada. E eu sucumbia-me de pavor de ser abandonada no dia da formatura.

Andava de um lado para outro, apreensiva, nervosa, que nem fazia conta com os elogios que recebia.

Era quase 1: 00 hora da madruga quando ele chegou e estava um pouco estranho. Sério. Senti medo. Mesmo assim, não pude deixar de notar como meu namorado estava lindo, usando uma roupa social, camisa cinza escuro e calça de alfaiataria preta.

Preciso ressaltar que quando ele chegou, eu já havia tomado todas e mais umas e já estava quase dobrando o cabo da boa esperança... E daí para frente a tendência era só piorar. E era cerveja que vinha de todos os lados. Geladíssima, não tinha como recusar, ainda mais num calorão de Dezembro.

Os amigos já haviam começado a chorar e a lamentar a separação e usavam cerveja pra afogar as magoas. E o povo continuava a beber. E a chorar. E a relembrar do dia que aquele melhor amigo tirou aquele outro de uma enrascada. E aquele que arrumou aquela namorada mais gata da cidade. E cerveja. E choro. E lembravam-se do dia que a gente colou na prova e o professor quase pegou. E da vez que o casalzinho escapou do “Veio” quando se agarravam atrás da sala na hora do almoço. E choro. E bebida. E lembranças. E abraços. E lágrimas.

Foi tanta cerveja e tanto choro que em alguns momentos eu acabei esquecendo o namorado, que ficou enfurecido e sem entender todo aquele afeto e carinho entre amigos que durante quatro anos viveram tantas histórias juntos. Ele não entendia que ali era o começo de uma nova história e o fim de uma historia inteira. Para nós era a coisa mais importante do mundo.

E eu sei que o meu namorado não era o único a não entender aquele momento, ali tinham muitas namoradas que da mesma forma que o Cleber não entendiam aquelas lágrimas, abraços, palavras sem sentidos, cerveja, tristeza e alegria. Tudo misturado.

Não tenho vergonha de assumir que escrevo essas linhas chorando, aos soluços mesmo. Ter que relembrar aqueles momentos ainda me causa muita emoção e acredito que cada um que estudou no Cera ao ler esse trecho também estará em lagrimas por que experimentou da emoção a qual me refiro.

E o meu namorado sem entender essa emoção, enfurecido e enciumado, aproximou-se gritando por causa do som alto:

─ Jane, vamos embora?

─ Não, meu amor, é cedo ainda!

─ Eu já estou indo. Fica ai com seus amigos. E não precisa vir atrás de mim que você já escolheu com quem quer ficar. Ficou a noite inteira se abraçando com um e com outro, tem mais é que ficar com eles.

─ São meus amigos! É a minha formatura! Não sei quando os verei novamente. Entenda-me. Só isso que estou lhe pedindo, é assim que você trata meus sentimentos?

E sem me responder, virou as costas e saiu.

Fiquei louca, desesperada, fui atrás dele. Mas sandália de saldo não é a melhor coisa pra se correr atrás do namorado quando eles terminam com a gente.

Eu não consegui alcançá-lo e em meio à multidão ele desapareceu...

E eu chorei ainda mais. E bebi ainda mais.

Depois de um tempo, não sei como ainda conseguia enxergar, mais eu o vi no meio das pessoas e fui até ele:

─ Você não tinha ido embora? Arrependeu-se e voltou porque quer ficar comigo, né?

─ Não! Voltei porque tenho convite...

Saiu de perto de mim e começou a dançar num grupinho.

Eu fiquei meio por perto, bebendo. E é até esse ponto da história que eu me lembro e ele também.

Não sabemos como e nem sob quais circunstancias chegamos a sua casa. Mas o fato é que acordamos um ao lado do outro no quarto dele, acordei com as pernas dormentes, pois adormeci com as pernas penduradas pra fora da cama e ele dormindo no chão ao lado da cama. Acordamos com uma dor de cabeça terrível. E rimos muito de tudo. Beijamos-nos como sinal de que tudo tinha sido apenas efeito da bebida.

E ainda tinha a continuação da formatura: churrasco no Clube do Laço.

Tomamos um banho e fomos correndo pra minha casa, onde estava minha família nos esperando. Meu pai com a mesma cara de poucos amigos nos olhou desaprovadamente.

Hoje eu o entendo, com certeza não era fácil pra ele aceitar toda aquela situação, sua menininha até pouco tempo, tornou-se uma mulher.

Fomos todos para o almoço no Clube do Laço de Aquidauana, no caminho meu pai não pronunciou uma única palavra. Por certo estava digerindo toda aquela história.

Ao chegarmos meus amigos já estavam todos reunidos. A música era boa, cerveja estava bem gelada, muita carne rolando nos espetos. Estava uma festa belíssima. Muitos convidados, gente bonita e animada. Porém a felicidade tinha certo sabor de nostalgia, de adeus.

E essa nostalgia que torna essa a parte muito difícil de ser contado, ter que reproduzir em minha mente esses momentos me causa novamente um turbilhão de sentimentos que até então estavam adormecidos no meu peito.

Eu deixei muita coisa por causa do Cleber. E aquele foi um momento em que eu deveria ter vivido exclusivamente para os amigos, para a despedida, para o adeus.

Não era somente a tristeza da despedida que me angustiava, era a certeza de que a minha grande história de amor poderia acabar no momento em que o carro sumisse pela estrada. E isso aumentava muita minha dor, minha tristeza.

E decididamente não soube lidar com meus sentimentos divididos e deixei de lado meus amigos, meu momento. Momento único que eu deveria ter aproveitado até o ultimo instante. No entanto, só agora tenho a maturidade de perceber isso. E naquele momento eu escolhi o amor, e todos devem concordar comigo: é uma escolha muito difícil, não é?