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domingo, 7 de novembro de 2010

Campos e Matos

 COMEÇO
Tentarei transcrever nessas linhas saudosas, os melhores anos de minha vida. Num lugar onde fiz muitos amigos. Amei, fui amada. Experimentei sensações, sentimentos e vivi intensamente cada dia na mais bela cidade que já conheci.
E são muitos sentimentos que hoje se misturam em minha mente. A saudade inunda meus olhos, sufoca meu peito e um sentimento que há anos estava adormecido ressurge em mim após recordar histórias e sentimentos que há muito estavam adormecidos. E como um vulcão que começa a entrar em erupção pra jorrar toda a lava imóvel. E a lava sonolenta transforma-se nesse livro, em que espero expressar todo sentimento e importância que há em cada momento vivido em quatro anos na escola ao lado dos meus amigos, companheiros de jornada.

AQUIDAUANA

Aquidauana situa-se há 120 km da capital do estado, Campo Grande e há cerca de 320 km de Ponta Porã. Conhecida como Portal do Pantanal, ostenta beleza e natureza envolta pelas águas do Rio Aquidauana que a separa da cidade vizinha, Anastácio.
As duas cidades são abraçadas por serras e morros de um verde intenso e cheio de animais, pássaros e árvores de um verde que só as árvores de Aquidauana têm.


TROTE

No primeiro dia de aula fomos reunidos pelos veteranos na quadra de esportes.  
A coordenadora da escola explicou aos recém chegados como funcionava o trote. Disse que era uma brincadeira de boas vindas entre veteranos e novatos. Cada novato receberia um apelido pelo qual passaria a ser chamado pelos outros colegas. Os meninos raspariam a cabeça como prêmio por fazer parte da família CERA.
Depois que a coordenadoria voltou pra sua sala, começou a festa.
Os avôs e avós como eram chamados os veteranos, escolhiam suas prezas e dava aos pobres recém-chegados um carinhoso pseudônimo, um apelidinho meigo e amável. Tinham alguns apelidos bem bonitinhos mesmo, mas em contrapartida, outros davam até vergonha de pronunciar.
E ninguém seria reconhecido senão pelo apelido. Tem colegas que até hoje não são conhecidos pelo verdadeiro nome, só pelo apelido.
O meu apelido qual era?... Melhor nem comentar! Brincadeirinha, eu até que recebi um apelido bem original, como sempre fui gordinha me apelidaram de Gelmax, o nome de um remédio pra azia e que trazia como garoto propaganda um dragão muito charmosinho. E acredito que pela nossa semelhança física presenteada com esse singelo apelido.
Mais tinham muitos apelidos interessantes: Tinha o Atrasado que era irmão do Adiantado. O Estrovenga, Coalhada, Tithiolina, Biscatinha, Saracura, Gercynha, Pucheiro, Paraguai, a Azeithona, o Formigão, o Gago, Debiloyde e muitos outros.
Os professores, o diretor, as coordenadoras e os funcionários, não podiam ficar de fora, também tinham apelido. O nome do diretor eu não lembro, mais o apelido dele era carinhosamente “Cabeça-de-onça”. Tinha o Vaca, o Miquimba, o Véio, a Papa-leguas e vários outros apelidos carinhosos.
E não pense que as meninas tinham regalias. Nós tínhamos que ficar abanando, assoprando ou servindo tereré para os veteranos enquanto cortavam um chumaço de cabelo ou colocava no pobre bagaço uma placa com o apelido e o nome do padrinho. Todos os novatos deveriam usar a placa, feita de papel A4, por trinta dias e deveriam cuidar dela como se fosse sua própria vida.
E não pense que as meninas tinham regalias. Nós tínhamos que ficar abanando, assoprando ou servindo tereré para os veteranos.
Os trotes eram variados, desde o corte de cabelo até umas repetições de frases idiotas que repetíamos aos veteranos.
Tinha menino que era forçado a se declarar pras árvores, outros que serviam de máquina de escrever para um veterano que fingia datilografar nas costas do novato que ia se inclinado até onde conseguia e fazia um som que era a deixa pra levar um tapa na orelha e voltar pra posição inicial.
Mais era muito divertido. Nada muito agressivo como os trotes que a gente vê pela televisão.
Naquelas brincadeiras sempre havia muito respeito e o cuidado para que a nada passasse dos limites entre o legal e a agressão.